Universidade de São Paulo – Faculdade de Educação
Grupo de Estudos: Pedagogia Multiplicadas No Currículo da Mídia
Data: 29 de abril de 2009
BAUMAN, Zygmund. Existe Vida Após a Imortalidade?. In “A Sociedade Individualizada: vidas contadas e histórias vividas.”. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.
Grupo de Estudos: Pedagogia Multiplicadas No Currículo da Mídia
Data: 29 de abril de 2009
BAUMAN, Zygmund. Existe Vida Após a Imortalidade?. In “A Sociedade Individualizada: vidas contadas e histórias vividas.”. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.
- Contamos os dias e os dias contam
o Conceito de tempo (finito) e durabilidade
o Durabilidade é insustentável
o Inventar cultura é o esforço humano para garantir durabilidade - Cultura – pontes para a imortalidade
o Extensão da vida: religiosa (vida além do túmulo) ou laica
o As formas laicas de garantir a durabilidade eram a fama, a nação e a família. Hoje em dia é a notoriedade. - A notoriedade é marcada e estabelecida pelos critérios do mercado. Como todo bem não durável, tem seu impacto inicial, é fetichizada enquanto mercadoria. Mas tudo passa, torna-se tão obsoleta quanto outro produto quando uma mercadoria nova aparece. A notoriedade tem, portanto, uma obsolescência programada.
- A fama já não existe mais. É ligada a um produto que é consumido e consome-se, por isso acaba.
o A fama está ligada a obra. A notoriedade está ligada a uma experiência que passa.
o Alguns conseguem furar o sistema: Ronaldo? - Simulacro de imortalidade: Disney World ou Museus de Holocausto
- Fotografias: sentido de permanência a momentos voláteis
o Álbuns de família: tentativa de tornar imortal algo que é cada vez menos durável - Título: Vida após a imortalidade – quando a sensação de imortalidade acaba, o que é a vida?
o Qual o sentido que se dá para a vida?
o Não sabemos lidar com a mortalidade por termos consciência da morte. Temos consciência que podemos passar despercebidos pela vida. - Corpo: cuidados, valorização
o Deve gozar, mas ser protegido.
o MEDO: produção do medo - Curtir a vida: durável?
o O que você faz com a sua vida? É ela que importa. (Vida Simples?) - A imortalidade NAS nossas revistas/livros? São mortais ou imortais?
o Dumbledore: imortal pela ação, pela influência – professores?
o Derrotar Voldie é a imortalidade de Harry Potter
o A mortalidade de uma revista de consumo – Capricho
o A imortalidade das revistas de pesquisa – Recreio, Globo Rural
o A vida curtíssima da revista de horóscopo e dieta – Guia Astral, Dieta Já
o Você S/A, Vida Simples, Men´s Health??? - Critérios do mercado. As revistas trabalham com o transitório, com o efêmero
- A imortalidade DAS nossas revistas/livros? Durabilidade do saber no suporte material.
o Internet (efêmero)
o Jornal
o Revista
o Livros
o Pergaminho (mais durável)
->“eu não vou abrir mão da minha biblioteca!” - segurança - Os suportes atuais são muito frágeis
o A Vida Simples tem uma preocupação maior com a durabilidade do suporte
Para quem nos tornamos imortais?
ResponderExcluirestavamos voltando para casa, a Isis e eu, conversando sobre albuns antigos de fotografias, qual seria a durabilidade e a significação deles para as próximas gerações. As fotos dos meus avós fazem sentido para mim, mas farão sentido para meus filhos, meus netos, meus tataranetos? Nos tornamos imortais para nós mesmos!(?)
Olá, Larissa e Isis!
ResponderExcluirAcredito que uma das maneiras de nos tornarmos imortais seja por meio dos nossos familiares assim como sugere o comentário de vocês. Entretanto, para que isso aconteça é necessário que realizemos algo que conte para essas pessoas e que depois possa ser contado por elas. Pois como nos afirma Bauman (p.302) “os humanos são mortais, mas suas glórias podem escapar da morte.”
Todavia, não podemos esquecer que “hoje a expectativa de vida das famílias não excede à de seus membros e poucas pessoas podem afirmar com confiança que a família que acabam de criar viverá mais do que eles.”(Bauman, 307) Certamente as fotografias de seus avós fazem algum sentido para vocês porque de alguma maneira eles conseguiram por meios de suas ações ou feitos deixar alguma coisa significativa para vocês (construir uma casa para família, proporcionar educação para os filhos, oferecer um lar acolhedor, valores...). Arisco-me também a dizer que seus avós são importantes para vocês porque de alguma maneira também o foram para os seus pais. Lembram-se das aulas da professora Gilda sobre os romanos? O culto aos antepassados...
Estimado Grupo,
ResponderExcluirGostaria de retomar uma questão que fiz para a nossa discussão no encontro anterior, a saber:
De acordo com Bauman, na sociedade contemporânea a fama foi substituída pela notoriedade. E esta, na medida que é planejada para ser consumida, pode ser caracterizada como uma mercadoria. Na condição de mercadoria a notoriedade pode também ser fetichizada. Acredito que cabe, então, nos perguntar: Qual seria o valor de uso da notoriedade? E qual seria o valor que ela assume enquanto fetiche? (3º § da página 308 )
Ao retomar essa questão, vejo o quanto o Jaime tinha razão ao “classificá-la” como uma questão espinhosa. Mesmo sabendo dos riscos que corro, que seria sair todo “arranhado” intelectualmente, vou tentar ESBOÇAR uma possível resposta que pretende muito mais abrir a discussão do que propriamente responder a questão.
Vamos começar primeiro tentando verificar qual seria o valor de uso da notoriedade. Segundo Marx, “como valor de uso a mercadoria procura satisfazer necessidades humanas”. Temos aí, então, um primeiro problema: que tipo de necessidade humana a notoriedade procura satisfazer? Devemos lembrar que a necessidade está ligada a idéia daquilo que não pode deixar de ser, do inevitável. E a notoriedade em nossa sociedade é algo inevitável? Algo que não pode deixar de existir em nossas vidas? Para meu próprio espanto devo dizer que sim. Pois vivemos em uma sociedade confessional exibicionista ou, se preferirmos, uma sociedade do espetáculo. Portanto, aparecer nessa sociedade é condição fundamental para a existência humana e não aparecer significa a morte. Talvez aí já comecemos a ter alguns ingredientes que nos permitem entender porque Bauman fala no seu texto que hoje há uma pressão muito grande sobre as pontes individuais. As pessoas estão buscando marcar a sua existência, mesmo que seja por alguns instantes. E a notoriedade, na sociedade contemporânea, é um produto que parece oferecer mais possibilidades para cumprir esse papel.
Podemos então dizer que a notoriedade enquanto valor de uso cumpriria a função, mesmo que fugaz, de fazer os homens aparecerem, serem visto pelos outros. Seria uma espécie de passaporte que garantiria vantagens, não em outra vida, mas aqui mesmo na Terra. Entre as vantagens ou benefícios da notoriedade podemos destacar: ser popular, ter a possibilidade de participar de festas e eventos importantes, figurar nas capas de revistas ou aparecer nos noticiários e na boca dos “fofoqueiros” de plantão, fazer comerciais, etc.
Acredito que em relação ao valor de uso da notoriedade já deixei elementos suficientes para que as minhas ideias sejam bastante questionadas. Chamo atenção agora para a outra parte da questão que parece ser a mais espinhosa: Qual seria o valor que ela (notoriedade) assume enquanto fetiche?
O primeiro questionamento a se fazer aqui é saber se essa é uma boa questão, mas isso eu deixo para o grupo. “A mercadoria é uma coisa complicada, cheia de sutileza metafísica e manhas teológicas”, diz Marx. É possível notar pelas palavras do autor que entender a mercadoria não é uma tarefa muito fácil. A impressão que tenho é que quando o produto da ação humana passa então a ser mercadoria, o seja, aquilo que pode ser vendido e consumido, origina-se também aí a sua duplicidade: seu valor de uso e de troca. Com isso, podemos dizer que a mercadoria já traz em si, no ato da sua gestação, as sementes de algo enigmático, místico. Sobre isso, Marx nos diz que o caráter enigmático do produto do trabalho humano provém da forma que ela assume enquanto mercadoria.
Mas onde é que entra o fetiche nessa história toda, podemos nos perguntar? Se fiz uma leitura pelo menos razoável do texto de Marx, o fetiche entraria justamente nesse caráter enigmático que a mercadoria tem. Tentando me explicar melhor, ou sendo mais claro comigo mesmo, a mercadoria é fundamentalmente um produto da ação humana. Isto é, trabalho humano que assume a forma de mercadoria. Mas que a primeira vista fica parecendo que não. Tem-se a impressão que a mercadoria ganhou vida própria e nada tem mais ver com o seu criador. Utilizo novamente as palavras do autor porque acredito que podem esclarecer melhor do que as minhas: “O misterioso da forma mercadoria consiste, portanto, simplesmente no fato de que ela reflete aos homens as características objetivas dos próprios produtos de trabalho.”
Mediante ao que foi exposto, acredito que é possível afirmar que em certa medida a mercadoria acaba escondendo uma das suas principais características que é ser um produto da ação humana. E ao mesmo tempo ganha uma série de propriedades que até então não possuía. E é isso que vai nos interessar aqui nessa reflexão: verificar o que a notoriedade promete além do seu valor de uso. E isso também é que nos parece que está implícito na idéia de fetiche: Atribuir poder sobrenatural ou mágico a um objeto e lhe prestar culto. Enquanto fetiche, acredito eu, a notoriedade nos faz pensar que ao obtê-la teremos a felicidade, o que nem sempre é verdadeiro. Mas isso já é assunto para as próximas conversas. Abraços, Adilson. Referências: Marx, Bauman, Grupo de Estudos e Houaiss eletrônico.
Vamos por partes:
ResponderExcluir1. Tentamos ser imortais para nós mesmos?
Não acho que seja bem assim, porque a imortalidade tinha como referência os outros, no futuro - a lembrança dos feitos e das obras. Agora, o que está em jogo, o parco substituto da imortalidade, é a notoriedade. Nesse sentido, nem a família nos garante. Mesmo que o álbum de fotos nos seja significativo, ele só nos ajuda a constituir nossa própria identidade, mas não nos garante notoriedade no mundo.
2. A notoriedade como mercadoria
Como valor de uso, ela só "serve" - isto é, só tem utilidade - se puder ser usufruída. Mas como se usufrui a notoriedade? Ou gozando a admiração dos outros que ela proporciona - todos nos olham, nos invejam, talvez nos desejem - ou como moeda de troca - por outras coisas mais úteis, o que a faz deixar de ter valor de uso e passar a ter valor de troca (para Marx, o valor em si, sem adjetivos, é o valor de troca, que vem incorporado, na mercadoria, ao fetiche).
Assim, a notoriedade como mercadoria, como fetiche, fascina, subjuga, domina a todos: aos que a conseguem e aos que invejam a notoriedade do outro. Ser notado é fazer-se aparecer, como mostra o Adilson.
Mas o problema que ainda fica é: se a notoriedade é mercadoria, como podemos definir e medir o trabalho humano nela incorporado? De que trabalho estamos falando? Quem realiza esse trabalho, o indivíduo notável (a celebridade)? Ou todo o aparato industrial da mídia?
Penso que só criei mais problemas.