sábado, 24 de outubro de 2009

Questões sobre o texto de W. Benjamin

Tendo como referencial o nosso último encontro, retomo aqui o texto de Walter Benjamin com os seguintes objetivos: procurar aumentar a minha compreensão sobre o texto e tentar formular questões para os próximos diálogos.

Vimos que neste artigo Benjamin defende algumas “teses sobre as tendências evolutivas da arte, nas atuais condições de produtividade” (166). A impressão que eu tive é que o autor vê como positiva essas mudanças que o modo de produção industrializado trouxe para o campo da cultura.O desenvolvimento dessa nova tecnologia na produção acabou implicando em uma nova maneira do homem produzir, perceber e se relacionar com a obra de arte.

No último encontro, concentramos nossos esforços para tentar compreender o conceito de aura. A compreensão de tal conceito parece ser fundamental para o entendimento do ensaio de Benjamin. A aura parece ser uma espécie de “revestimento” místico que cobre a obra de arte lhe conferindo uma função ritualística. O que a reprodutibilidade técnica fez foi libertar em grande medida a obra de arte dessa função ritualística e lhe conferir uma outra: a artística.
De acordo com Benjamin, com a reprodutibilidade técnica a obra de arte deixou de fundar-se
no ritual e passou a fundar-se na práxis política. Em outras palavras, o uso da obra de arte deixou de estar ligado apenas ao culto, ao sagrado e passou a incorporar outras preocupações humanas. O cinema é apontado pelo autor como um exemplo dessa nova função que a obra de arte começa adquirir na atualidade.

A primeira questão que me chamou a atenção diz respeito ao conceito de obra de arte. Este, parece que é bem largo em Benjamin. Há consenso sobre o conceito de obra de arte? O cinema pode ser considerado como tal? E os produtos midiáticos que analisamos? Benjamin deixa bem claro em seu texto que está falando sobre tendências, ou seja, algo que pode ou não se confirmar. Passados quase sessenta anos, o que podemos dizer sobre os prognósticos de Benjamim sobre a obra de arte? Não obstante seu caráter fantasmagórico, a aura é produto da criação humana e como tal pode ser inventado e reinventado. A aura ainda resiste em algumas obras de arte? Em relação aos produtos midiáticos, podemos também falar em alguma espécie de aura?

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Pesquisar: uma aventura interessante

Já não é de hoje que o trabalho acadêmico me desperta o interesse. Mas não me imaginava participar efetivamente dele. A realização desse projeto de iniciação científica me possibilitou vivenciar um pouquinho dessa realidade.
Quanto ao modo de elaboração da minha pesquisa, vou começar falando sobre o que eu não fiz. Acabei deixando de explicitar no trabalho o critério que foi utilizado para a seleção das matérias que tratam da questão ambiental. A seleção destas foi realizada a partir de termos ou expressões que eu considerei como pertencentes ao universo ambiental. Tais como: “sustentabilidade”; “preservação”; “reserva ambiental ou ecológica”; “biodiversidade”; “energia renovável”; “alimentos transgênicos”; “aquecimento global”; “desmatamento” e outros. Tudo isso ficou subentendido na construção do banco de dados. Também não ficou claro no trabalho que utilizei como referenciais teórico-metodológicos a Análise Clássica de Conteúdo e a Análise do Discurso. A primeira, permitiu-me fazer análises de maneira mais geral, o que eu poderia chamar de um “olhar macro”. Já a segunda, foi importante para observar as nuances , os detalhes que a Análise Clássica de Conteúdo não consegue alcançar.
A princípio, eu tinha a intenção de desenvolver uma idéia defendida por Kellner que considera a cultura da mídia como uma arena de disputa na qual grupos sociais importantes e ideologias políticas rivais disputam espaço. A revisão cuidadosa do Jaime me fez perceber que talvez essa idéia não fosse muito interessante para se analisar em um único produto da indústria cultural. Pois como se sabe, os organizadores de uma revista possuem um grande controle sobre o que é publicado nela. E a bem da verdade, estava muito confusa a maneira como eu expus as idéias.
Os comentários do Jaime acabaram me sugerindo que analisar as contradições do próprio discurso da revista talvez fosse um caminho interessante. Isso veio ao encontro com outra idéia que eu já estava desenvolvendo na justificativa do trabalho: que é a noção de que a pedagogia da mídia se faz muitas vezes por meio da contradição, como sugerem os escritos de Kellner (2001).
Além de me fazer perceber que eu estava fazendo apenas constatações, a revisão do Jaime literalmente me encorajou a ser mais ousado, a buscar um olhar mais apurado sobre o material selecionado. Diante disso, não tive outra alternativa a não ser enfrentar o texto. Para minha surpresa, tive um encontro muito frutífero com o modo de operar da Análise do Discurso. Senti que a partir daí minha pesquisa começou a deslanchar.
Outro problema que tinha o meu trabalho diz respeito a fixação que eu estava em querer demonstrar o tempo todo que a revista se dirigia para o produtor rural. Nem preciso dizer como foi importante a revisão do orientador para me fazer perceber o quanto isso estava engessando o meu texto e consequentemente limitando o alcance da pesquisa. Pelo que eu disse até aqui, pode se notar o quanto é complexa a relação entre orientando e orientador. Como receber uma crítica, que em geral mostra detalhes negativos do seu texto, sem se deixar ser esmagado por ela? É tão difícil. As vezes, se está tão envolvido com o texto que parece que autor e obra são uma coisa só.
Embora tenha desaparecido a idéia de se trabalhar a questão ambiental considerando a Globo Rural como um palco de disputa, permaneceu a estrutura dessa noção na qual procurei verificar o discurso ambiental sob a ótica de três atores sociais: a revista, os anunciantes e os leitores. Procurei organizar o material coletado dentro dessa estrutura. Evidentemente que tudo que está na revista diz respeito ao discurso da própria revista. Contudo, não se pode deixar de considerar que um anúncio publicitário ou um comentário de um leitor traz algumas idéias ou valores que nem sempre coincidem com os defendidos pela revista. E o próprio discurso da revista apresenta contradições. Essa foi a minha maior aposta.
De uma maneira um tanto empírica fui fazendo o percurso proposto pela revista para tratar da questão ambiental. Procurei analisar as matérias dentro dos contextos em que elas apareciam. Ou seja, considerando aspectos relativos da própria seção. Por exemplo, na seção Campo Aberto procurei considerar na análise também as suas principais características que eram apresentar matérias curtas, informativas e sem a identificação de um jornalista. Tais características me permitiram classificá-las dentro do gênero notícia. Operar com algumas noções do jornalismo foi muito interessante. Pude perceber, por exemplo, que havia algumas seções em que eu poderia afirmar com convicção que o que estava exposto ali de fato se tratava da opinião da revista naquele momento ( Carta do Editor e Reportagens).
Foi muito importante para minha pesquisa o instrumental da Análise do Discurso para perceber, por exemplo, que por meio da notícia que é um gênero textual que carrega a pretensão de ser um retrato fiel da realidade “esconde-se” muitas vezes de maneira muito sutil a opinião da revista.
Outro ponto também utilizado para classificar as matérias foi a busca por regularidades. Neste sentido, o instrumental da Análise Clássica de Conteúdo foi muito importante. Tive um pouco de dificuldade para utilizar os recurso do banco de dados, devido sobretudo a forma como eu havia organizado os dados. Por isso, em alguns momentos tive que recorrer aos dois: banco de dados e revista. Reli muitas matérias, organizei seus resumos e títulos em fichas e passei a observá-los sempre em busca de regularidades. Foi dessa maneira que consegui fazer algumas classificações. Exemplo: “As notícias da seção Campo Aberto podem ser classificadas em três tipos: as que alertam para a destruição do meio ambiente; as que falam sobre ações ou invenções de equipamentos que procuram preservar a natureza; e as que tratam de questões polêmicas, por exemplo: alimentos transgênicos.”
É interessante também dizer que me vali de outros recursos que não aparecerem explicitamente no texto mas que estão presentes. Duas questões-orientadoras em especial me ajudaram a desenvolver o trabalho. A primeira, muito simples, ouvi do professor Elie Gahnem (FEUSP) que diz que em uma pesquisa é preciso se perguntar o tempo inteiro “sobre o que estou escrevendo?”. Acredito que isso me ajudou a não desviar muito do assunto. A outra questão veio do Jaime que em reunião com a Bruna e comigo nos disse que é preciso durante a pesquisa com a revista se perguntar “o que essa matéria está fazendo aí?”. Ou seja, tudo o que esta posto na revista tem uma função. E nosso trabalho de certa maneira seria desvendar isso.
Para finalizar, gostaria de dizer que essa pesquisa me deixou marcas simbólicas significativas. Em alguns momentos pensei em largar mão de tudo. Foram tantos os problemas que apareceram durante a pesquisa que é preferível nem citá-los para não correr o risco desse depoimento acabar se tornando uma sinfonia de lamúrias. Prefiro falar das coisas boas com as quais me deparei nesse percurso. Entre elas está a leitura tão agradável que me proporcionaram os textos do seminário, em especial o de autoria da Bruna e da Marta (fonte de inspiração) e o da Larissa e da Ísis. Li também bastante o projeto de iniciação da Caroll que aliás ficou muito bom. Além de poder vivenciar momentos tão bons ao lado do orientador e das amigas que participam do Grupo de Estudos (o que já valeria a pena) essa pesquisa de iniciação científica ainda me possibilitou experimentar algo que de certa maneira não acreditava que pudesse acontecer comigo: vivenciei momentos fecundos de aprendizagem. E isso foi uma aventura muito interessante.